E viva em sintonia com a vida que você deseja criar
Os últimos anos foram marcados por uma corrida ao ouro: empresas com propósitos claros saíram na frente, recebendo o rótulo de “conscientes”. Com mais clareza nas mensagens, conseguiram se conectar com sua audiência e públicos-alvo de forma precisa.
A busca por essa essência “do que e pelo o que” fazemos foi tracionada há uma década pelo escritor americano Simon Sinek, com o best-seller “Comece pelo porquê” (2009), marcando uma linha transitória no valor que damos ao propósito em nossas vidas, empresas e atuações profissionais.
Quando o movimento Capitalismo Consciente nos provoca com a pergunta “qual é o propósito dos negócios?”, sabemos que a resposta não é maximizar lucros ou dar retorno aos acionistas. Contudo, “elevar a humanidade, atendendo às necessidades reais, oferecendo trabalho significativo, espalhando prosperidade e possibilitando mais pessoas a viverem vidas mais satisfatórias e humanas”, como Nilima Bhat e Raj Sisodia destacam no livro “Liderança shakti”, pode provocar um efeito paralisante e até angustiante, se não for tratado de forma orgânica.
Todo mundo tem que ter um propósito?
Essa necessidade de ter seu “elevator pitch” pessoal (frase curta de impacto que resume sua qualidades, entregáveis e propósito) forçou muitos de nós a um parto prematuro.
Saber o porquê estamos aqui e qual a nossa contribuição para a humanidade durante os anos que viveremos neste plano, além de ser muita responsabilidade para resumir em uma frase, precisa, antes, estar alinhado a algumas expectativas. A primeira delas? Que estamos todos em um processo evolutivo.
Empresas e pessoas estão evoluindo junto com a História (sim, com H maiúsculo) e a pandemia do novo coronavírus nos mostra isso de forma mais evidente.
No mês em que ultrapassamos a marca de 100.000 mortos pela Covid-19 no Brasil, a morte está mais próxima de todos nós.
“A morte é provavelmente a maior invenção da vida. É o agente de mudanças da vida. Ela afasta o que é velho para abrir o caminho para o novo” observou Steve Jobs na sua célebre palestra para a turma de graduandos de Stanford, um ano após ser diagnosticado com câncer no pâncreas. E, quando ele continua exemplificando o ditado zen “Morra antes de morrer para que possa viver de verdade”, o primeiro “morra” significa nos confrontarmos com o fato de que somos mortais e, o segundo, com o sentido literal. (Liderança & Propósito, Fred Kofman)
A cada dia, a pandemia esfrega na nossa cara a fragilidade da vida em números. Essa consciência da mortalidade é angustiante e, segundo ensina Kofman, “para irmos além da nossa morte física, procuramos criar algo que sobreviva ao nosso corpo, como arte, música, literatura, religião, movimento políticos, instituições, nações e impérios”.
Para o autor, esta é a força motriz por trás de atividade humanas e de qualquer empresa.
Será?
O propósito muda
O que fazia sentido para mim no início da carreira não tem tanta importância hoje. O que eu quero para o mundo também mudou com a maternidade e após o nascimento dos meus filhos. E como posso contribuir para a humanidade que está transmutando junto com a transformação digital da pandemia?
Sim, o propósito muda. E nos permitirmos revisitar esse conceito e nossos porquês é fundamental para alinharmos nossas expectativas à forma orgânica como vivemos, levando para dentro das empresas este entendimento de que há uma fluidez – conhecida no ambiente corporativo como resiliência.
O professor de estratégia da Fundação Dom Cabral, Paulo Vicente, traz, em sua participação no podcast da mesma instituição, seis passos para a construção da resiliência no contexto pós-pandêmico: inovação, cadeia de suprimentos, internacionalização, sustentabilidade, pessoas e marca.
Quando falamos sobre inovação, aceitar que o estágio que estávamos não existe mais é o primeiro passo para pessoas e empresas que desejam, de fato, se transformar.
Enfrentamos um ponto de virada em todas as organizações em relação à inovação, melhor dizendo, à necessidade de inovar. E com um ‘novo normal’ se desenhando, um pós-normal, um novo diferente ou como você deseja chamar o pós-pandemia, isto tende a se acentuar. (Trecho da minha coluna de julho aqui para o ‘Empresas Shakti’ – leia artigo completo aqui ).
Os stakeholders (conceito criado na década de 1980, pelo filósofo norte-americano Robert Edward Freeman) são mais importantes do que nunca. A cadeia de suprimentos, de fornecedores a clientes, está ainda mais potente na relação de qualquer indivíduo ou organização.
Com a transformação digital, essa relação é potencializada de forma geométrica: a escalabilidade proporcionada pelo digital amplificou e reverberou a voz de todos por mares nunca dantes navegados.
Daí a necessidade de construir sua resiliência no entendimento de que a cadeia de valor vai além do horizonte que conseguimos enxergar, o que aumenta a responsabilidade da mensagem que passamos adiante.
O que era uma tendência se mostrou uma consolidação com a chegada do anywhere office (as facilidades do home office levadas para qualquer lugar) à realidade corporativa.
Entre janeiro e março, a empresa californiana ZOOM aumentou sua receita em 169%, para mais de UU$ 328 milhões e obteve lucro de US$ 27 milhões, reproduzindo em números o que vivemos no dia a dia.
Num domingo, 2 de julho, estive numa aula online pela Shakti Fellowship com colegas de São Francisco, na Califórnia, à Xangai, na China. Enquanto ela mostrava a lua cheia pela janela, falávamos do clima nos diferentes hemisférios e continentes, conectadas todas pela plataforma que eliminou fronteiras e encurtou ainda mais distâncias e budgets de viagens corporativas.
Não é apenas o seu produto ou serviço que deve pensar internacionalmente. A sua mensagem e seu conteúdo também.
Propósito, como?
Em tempos complexos e diferentes, o propósito pode ser visto como um retorno aos fundamentos e origem. Uma reconexão à ancestralidade, não apenas da marca, mas de quem somos.
No resgate à nossa essência mais primitiva, vemos marcas com propósitos claros e estampados, adaptarem seu discurso e atitude ao momento.
É o caso da Ford, que tem como missão “oferecer produtos e serviços excepcionais, que melhorem a vida das pessoas”. Da fabricação de motores automotivos, adaptou a produção para respiradores que, durante a pandemia, são os motores que propulsionam pela recuperação dos casos mais graves.
A gigante Unilever apresenta na sua missão “levar vitalidade para o dia-a-dia, atendendo necessidades diárias de nutrição, higiene e cuidados pessoais com marcas que ajudam as pessoas a se sentirem bem, bonitas e aproveitarem mais a vida” – e comprovou como, na linha de produtos Rexona, ao incluir o álcool gel e em spray nas gôndolas e prateleiras.
A reiniciação que empresas e pessoas precisam atualizar neste novo sistema é o como. “Walk the talk”, que significa “caminhe a sua fala” e é exatamente a essência dessa versão atualizada do propósito.
Mais do que saber o seu porquê, é vivenciá-lo. Como questionou Steve Jobs: “Tenho me olhado no espelho todos os dias de manhã e me perguntado – ‘Se hoje fosse o último dia da minha vida, eu ia querer fazer o que estou prestes a fazer hoje? E sempre que a resposta for ‘não’ por dois dias seguidos, sei que preciso mudar algo”.
Quando começamos pelo “como”, precisamos nos questionar diariamente se o que estamos fazendo está em coerência com a vida que queremos criar.
O que você fará hoje está alinhado com a vida que você quer criar?
Confira na minha coluna mensal para a Revista HSM Management
Colunista Elisa Tawil – Empresas Shakti
LinkedIn Top Voices 2019. Mentora, consultora e podcaster pelo Vieses Femininos. Idealizadora e co-fundadora do Mulheres do Imobiliário.
Primeira certificada Shakti Leader em São Paulo e membro Tiara Resource Circle.
Elisa vai escrever mensalmente para a coluna “Empresas Shakti”da Revista HSM, na qual ela traz temas como liderança feminina, equidade e maternidade nas empresas.
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