A maior bilheteria de uma cineasta mulher, com 1,44 bilhão de dólares, a maior arrecadação de 2023 e a produção de maior sucesso da história da Warner Bros. não foram suficientes para sustentar o favoritismo de Barbie no Globo de Ouro. Com nove indicações, o longa levou apenas dois prêmios em categorias que não se referem ao conteúdo, mas à forma: Maior Realização Cinematográfica e em Bilheteria, e Melhor Canção Original.

A narrativa da boneca que questiona o patriarcado foi totalmente ignorada na premiação, a não ser pelo apresentador, um desses humoristas ultrapassados que usam o estereótipo feminino para tentar arrancar risadas dos mais desavisados.

Seria essa mais uma analogia do “mundo real” que Greta Gerwig busca representar com seus personagens?

Qual mulher não se sente representada com esta premiação, por ter sido responsável por recordes de vendas, arrecadações históricas em seus trabalhos, empresas e negócios e, no momento do reconhecimento, pouco se reconhece sobre suas competências e trajetória? Ainda que Barbie tenha levado um “bônus corporativo” como lembrança pelo feito.

O filme, que já foi assistido por mais de 1,5 milhão de pessoas, além de rememorar a infância de muitas de nós, leva o tema “você pode ser o que você quiser” para um roteiro que mescla o mundo rosa da fantasia da boneca mais conhecida do mundo com a realidade do machismo e patriarcado. Mesmo com o conceito sobre estereótipos sendo estressado a todo momento, houve uma certa divisão entre “lovers and haters” daqueles que voltaram ao cinema por conta deste feito histórico de bilheterias.

Confesso que saí do filme em dúvida sobre o efeito que o roteiro havia provocado em mim e questionando se deveria mesmo ter levado meus filhos. Não sou favorável à leitura do feminismo “meninas X meninos”; pelo contrário, penso que essa é a visão mais equivocada que possa existir de um movimento de estruturas sociais complexas e que busca trabalhar a equidade com a inclusão feminina em diversas camadas.

Fato é que o filme consegue vender um feminismo embalado para presente, numa caixa em rosa, com fita de cetim e glitter. Para quem não tem o fundamental básico sobre o tema, funciona como um “microlearning”, apesar de não se aprofundar em conceitos essenciais.

Ao saber dos reconhecimentos recebidos na 81ª cerimônia do Globo de Ouro, lembrei imediatamente da cena em que Barbie (Margot Robbie) entra na sala de reuniões “do mundo real”, com o CEO da Mattel Ynon Kreiz (Will Ferrell), usando uma gravata rosa, numa sala apenas com homens, tomando decisões sobre as bonecas que geram os negócios para a empresa.

O estereótipo é um padrão social construído, uma concepção preestabelecida que categoriza pessoas ou grupos, impondo rótulos, influenciando comportamentos e estereotipando de maneira preconceituosa a imagem desses indivíduos.

Para um filme que questiona estereótipos pela narrativa da “Barbie estereotipada”, quem ganhou o prêmio do Globo de Ouro foi o combo “Capitalismo do patriarcado”, uma boa categoria para ser apresentada pelo apresentador humorista, estereotipado.

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Elisa Rosenthal é diretora presidente do Instituto Mulheres do Imobiliário. Colunista no Estadão e Exame. LinkedIn Top Voices. Autora de “Proprietárias” e “Degrau Quebrado”. Vencedora do prêmio Conecta Imobi 22 e 23 - Voz Feminina e ESG. Eleita a mulher mais influente do mercado imobiliário de 2023 pela Imobi Report.

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