Foi na hora do almoço do dia 13 de janeiro de 2020 que meu sonar desativou e cai no famoso golpe do whatsApp. Sim, uma segunda-feira treze. Sempre tive uma relação muito boa com este número e, ao cair no golpe, desde o primeiro momento procurei me desafiar a enxergar o lado positivo de todo o transtorno causado após mencionar os 6 números que havia recebido por sms em meu celular para confirmar a participação na festa de um querido amigo que, segundo o golpista, iria acontecer no dia 20 de janeiro, curiosamente a data que recuperei o acesso à minha conta original.
Me considero uma pessoa muito atenta aos detalhes, sinais e ambiente porém, naquele momento singular, eu fui mais uma vítima ao golpe que usa do nome de pessoas supostamente do seu núcleo, para “ganhar confiança”. E aqui eu tirei a primeira lição sobre o golpe do Whatsapp:
1ª – Amizades importam
Alguns segundos após ter o número sequestrado do aplicativo, a primeira pessoa que ligou foi um amigo advogado, com quem trabalhei há alguns anos. A ligação dele foi com intuito de alertar que a conta havia sido invadida. E foi assim nas inúmera ligações que sucederam. Inclusive, uma amiga querida que estava a um passo de depositar a tal quantia de dinheiro que o golpista estava pedindo em meu nome. O que demonstra o quanto podemos contar com as amizades verdadeiras em momentos como esse. Felizmente, nenhum contato caiu no golpe.
Um amigo em especial me chamou a atenção. Ele foi meu chefe e hoje é CEO de uma importante incorporadora de São Paulo. Ao saber que havia sido vítima do golpe, continuou conversando com a pessoa que usava meu número e pegou informações como os dados da conta que estava solicitando os depósitos. Num mundo onde tempo é nosso maior recurso, credito a ele a comprovação de quanto existem pessoas dispostas a nos ajudar, de fato.
Minha reação ao saber que estava sem acesso ao WhatsApp foi, primeiro, avisar aos familiares diretos e que replicaram nos grupos. Na sequência, postei nas redes sociais, continuando com as lições aprendidas:
2ª – O poder das redes sociais
“Meu whatsApp acabou de ser clonado. Não respondam minhas mensagens”. Com essa advertência, alertei meus contatos do facebook, instagram, linkedIn e twitter. Não que use todas as redes com a mesma frequência, o fato é que o aviso gerou informação e alerta instantâneo para quem estava por ali.
Alguns dias depois, falando mais sobre o golpe com outras vítimas, fizemos uma suposição que o golpe poderia ter usado do instagram para juntas as peças de contato e nome do suposto anfitrião da festança. Por via das dúvidas, exclui meu celular dos dados de contato desta rede. Agora, cair num golpe como este reforça mais ainda a lembrança de que:
3ª – Não existe privacidade no mundo virtual
Sabemos disso e, apesar de “aceitarmos” todos os termos de uso dos aplicativos, sites e afins, levanta a mão quem – de fato – lê todos os termos, na íntegra. E é aí que começa a nossa strip-tease virtual. Foi assim que me senti ao ser invadida no whatsApp: nua. E não tem nada a ver com nudes ou coisas do gênero, mas sim em relação à sensação de privacidade.
Afinal, até aquela ligação, o celular (pelo menos para mim) não estava na lista de alvos de invasão. Fato é que nossa linha não se trata do telefone vermelho do batman ou de qualquer serviço secreto. Também é mais um foco de exposição. Sim, estamos nus virtualmente.
Ah, mas tem a verificação em duas etapas! Sim, de fato ela existe e precisa ser acionada em todas as suas contas (descobri que até o Gmail dá esta opção). Apesar de que o acesso ao meu aplicativo no celular pedisse a mesma senha que uso para destravar o aparelho ou minha digital, isso não foi o suficiente para que – ao ceder os números do “convite para a festa”- o acesso à conta fosse evitado. O que, para mim, aumentou ainda mais a sensação de insegurança no ambiente digital. Coloque a verificação em duas etapas, pessoal.
4ª – Sororidade e empatia digital
Se você, assim como eu, se perguntou ao longo dos últimos dias: “como tanta gente cai nesse golpe – ainda?” respondo que minha reflexão sobre o volume de pessoas atingidas pelo golpe representa o quanto estamos conectados com as pessoas, virtualmente. A festa do fulano, que você tem – de fato- contato, no mundo virtual. A lista da ciclana, que bomba na rodinha digital. O que me fez ir ainda mais à fundo e perceber o quanto estamos carentes de eventos reais – e olha que não sou uma pessoa de ir a festas, prefiro uma maratona Netflix, de longe!
5ª – Carência real
Estamos carentes de contato físico real? De abraçar os amigos, dar risadas com perdigotos e brindar fazendo tim-tim, sem ser via emoji? Se o suposto hotel mencionado no golpe fosse mesmo realizar todas as festas citadas pelos golpistas, além de atingir a meta de faturamento anual já em janeiro, a região do Ibirapuera ficaria bloqueada durante o mês para comportar tanta gente reunida. Penso que fica aqui uma dica para que façamos o exercício de nos reunir com os amigos mais vezes no mundo real e transpor nossas relações para o contato olho no olho, sem ser via “lives” ou usando as câmaras como filtro.
Assista a reportagem do golpe do WhatsApp na Jovem Pan
6ª – Confiança e credibilidade
Na primeira palavra que o golpista falou na fatídica ligação, meu impulso reativo foi de desligar imediatamente a “ligação de telemarketing”. Só não o fiz pois, ouvi o nome do meu amigo, seguido ao convite da “festa”. Foi aí que parei para prestar atenção. Parei porque o nome deste amigo representa confiança e credibilidade para mim e, a sua marca pessoal é tão forte, que se sobrepôs ao fato de eu estar sendo conduzida ao erro.
Da mesma forma, quem recebeu a “minha” mensagem pedindo dinheiro emprestado, sabia que eu não mandaria este tipo de mensagem, muito menos falaria sobre o assunto – caso precisasse de fato de dinheiro – desta forma.
A construção da sua marca pessoal, como frisa Marc Tawil, é pautada em muitos aspectos e aqui, destaco confiança e credibilidade: para entrar e sair desta enrascada. Construa sua marca em bases sólidas.
Site The Hack também falou sobre o golpe do WhatsApp
7ª – Do limão, uma limonada
Em alguns minutos estava sem acesso ao aplicativo, com meu nome circulando por aí pedindo dinheiro, assuntos e eventos em andamento e organização… Sem poder recorrer à operadora de telefone (apesar da conta caríssima que pagamos mensalmente) e “bloqueada” pelo pin de verificação em duas etapas acionado pelo golpista, o que me restava?
Arregaçar as mangas e tocar a vida, com uma pitada de humor. Sim, essa é uma das várias lições importantes que trago da minha graduação em Liderança Avançada para Mulheres pela Shakti Fellowship: The wise, fool of tough love (“O sábio tolo do amor bruto”).
Assista à reportagem sobre o golpe do WhatsApp da Band no Bora SP
Essa frase nos faz refletir qual a energia que está faltando para nosso equilíbrio do momento: sabedoria (sábio), humor (tolo), compaixão (amor) ou força (bruto)? Com esta reflexão resolvi levar o golpe numa boa, rindo da minha própria situação. Mesmo com a solução que assumi nos últimos sete dias, ao comprar um chip pré pago e – ao instalar o número provisório para acesso ao aplicativo – “cair” na conta do Tiago (não me pergunte como) às entrevistas concedidas para os veículos de comunicação que me procuram, como a gravação que aconteceu num domingo. Tá tudo bem. Foram 7 dias e semi “detox virtual”, que é ótimo por sinal!
8ª – Mantenha seu sonar ativado
Quando escrevi sobre intuição e instinto no meu artigo para a Veja São Paulo em dezembro de 2019, me referi ao sonar ativado, importante para – inclusive- percebermos situações de alerta e perigo, como esta.
O que me fez “desativar”o sonar, como citei acima, também serve para lembrar a você e a mim mesma, que estar em situação de presença constante é algo praticamente impossível. Como Nilima Bhat contou neste trecho de entrevista: “exercer presença constante é algo para um mestre iluminado”. Somos humanos, erramos. O importante é não persistir no erro e tirar as lições aprendidas, como estas que compartilho com vocês.
Dois dias depois da ligação do golpe, me ligaram, novamente. E desta vez, com o radar ligado e sonar ativadíssimo, gravei todo o storytelling do golpe, que compartilho aqui.
Qual foi a sua lição aprendida mais recente? Compartilhe aqui e vamos seguir em frente, com sabedoria, humor, compaixão e força!
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Elisa Tawil (@elisatawil) é mentora, consultora e podcaster à frente do Vieses Femininos. Escolhida uma das Top Voices 2019 do LinkedIn, é idealizadora e cofundadora do Mulheres do Imobiliário. Primeira certificada Shakti Leader em São Paulo, é membro do Tiara Resource Circle.
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