Quem você quer ser nas redes sociais?

Outro dia fui correr ouvindo podcast, como de costume.

Escolhi como trilha sonora um episódio recente do “Conversa com Bial”, publicado no início de setembro com Monica Iozzi e Maria Bopp. A certa altura desta edição, lá pelos 18 minutos, Monica faz uma reflexão sobre o possível palanque que ela teria dado ao então deputado Jair Bolsonaro, quando estava no programa CQC.

Nessa autocrítica, Iozzi citou como exemplo a Alemanha, que não abre espaço na televisão para quem relativiza o holocausto. A sua colocação ajuda a entender por que o discurso de ódio não deve ter palco. E ponto final.

Há mais tempo, numa outra corrida, enquanto corria pela orla de Santos num mundo pré pandemia, ouvi em um episódio do Super Soul da rainha da comunicação, Oprah Winfrey, outra análise pessoal sobre um programa no qual ela havia levado um líder do Ku Klux Klan ao The Oprah Winfrey Show, quando então percebeu que sua vida estava indo na direção errada.

Quando Oprah convidou o KKK para o show no ano de 1986, ela tinha esperança de reformar as atitudes da supremacia branca em relação aos negros, contudo percebeu que, na realidade, eles estavam usando a amplitude da televisão como uma plataforma para espalhar sua mensagem e recrutar novos seguidores.

1º turno 

A data era 09 de outubro de 2018 e o local San Diego, na Califórnia. Enquanto no Brasil era início da noite, na costa oeste dos EUA, algumas horas antes, eu estava numa sala da San Diego University, no início da certificação em Liderança Avançada para Mulheres (pela Shakti Fellowship) e recebi a notícia do resultado do 1º turno das eleições presidenciais no meu País (na imagem abaixo, estou em frente à Universidade, no primeiro dia do curso).

E apesar de ter solicitado ao consulado brasileiro local para exercer meu direito ao voto em território estrangeiro, tive que justificar minha ausência nas urnas naquele primeiro turno.

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Ao saber do resultado, senti um nó na garganta e a sensação de impotência.

No dia seguinte, minha colegas estavam discutindo sobre um dos assuntos mais tuitados naquele momento, o depoimento de Christine Blasey Ford ao Senado dos EUA.

Como não sabia nada sobre o caso, perguntei qual a razão do furor e foi naquele momento que entendi a importância do movimento que Tarana Burke fundou em 2006, o “Me Too”.

Christine Blasey Ford, uma professora universitária, foi à Suprema Corte americana, após o presidente Trump nomear Brett Kavanaugh para a instituição, denunciar que havia sido abusada pelo indicado de Trump em 1982, quando ela tinha 15 anos e ele, 17.

“Ficaram indeléveis no hipocampo (parte do cérebro que é o centro da memória e das emoções) as risadas entre eles, que se divertiam às minhas custas. Eu estava sob um deles enquanto eles riam.”

Relatou Ford em seu depoimento, que foi alvo de chacotas do presidente americano à ocasião.

Durante aquela semana que estava na Califórnia, pensei no quanto precisava fazer algo pela liderança feminina no Brasil, essencialmente nos próximos anos que se dariam no caso de uma possível vitória de Bolsonaro, o que se confirmou no turno seguinte.

No dia de sua posse, em 1º de janeiro de 2019, destaquei em minhas redes sociais o discurso da primeira dama, Michelle, em libras (Língua Brasileira de Sinais): “gostaria de dirigir-me à comunidade surda, pessoas com deficiência e a todos aqueles que se sentem esquecidos. Vocês serão valorizados e terão seus direitos respeitados”, disse ela.

Carlota Pereira de Queiroz, a primeira deputada mulher do Brasil (Wikimedia Commons/Divulgação)

Imagens não são ingênuas 

No dia 7 de setembro deste ano, o programa Roda Viva da TV Cultura recebeu a antropóloga e historiadora Lilia Schwarcz e ouvi a entrevista na versão podcast, numa corrida matinal há poucos dias (na imagem ao lado, Carlota Pereira de Queiroz, a primeira deputada mulher do Brasil (fonte: Wikimedia Commons/Divulgação)

Desta aula, aprendi com Lília o valor que precisamos dar às imagens e saber interpretá-las corretamente e com seus devidos valores históricos. Ela cita então uma análise que fez numa foto da família Bolsonaro em abril de 2020 e diz: imagens nunca são ingênuas. 

Nenhuma mulher aparece na imagem. 

Tenho repensado na simbologia do silêncio da primeira-dama no seu discurso na posse. O mesmo silêncio que permanece quando se pergunta sobre os 89 mil. 

Nessas corridas que cito aqui, ouvi e aprendi sobre a importância do espaço que construímos (seja virtual ou não) e do que compartilhamos. Monica e Oprah exemplificam isso com seus relatos sobre a não propagação do ódio. Cristine e Tarana, denunciaram o abuso e assédio através de relatos pessoais, levando o #metoo pela plataformas de mídias sociais ao conhecimento do mundo.

Desde San Diego eu decidi que minhas plataformas sociais não iriam reverberar ódio e muito menos dar palco para quem quer aumentar ainda mais o desequilíbrio social em que vivemos. 

Escolhi impulsionar o papel que nós, mulheres, temos na sociedade, principalmente, pela liderança feminina.

Afinal, uma imagem vale mais do que mil palavras. 

***

Elisa Tawil (@elisatawil) acredita que a liderança feminina é uma importante ferramenta de transformação para a nossa sociedade e, para isso, atua como mentora, consultora e podcaster à frente do Vieses Femininos. 

Escolhida uma das Top Voices 2019 do LinkedIn, é idealizadora e cofundadora do Mulheres do Imobiliário. Primeira certificada Shakti Leader em São Paulo, é membro do Tiara Resource Circle. Colunista do Blog HSM Management – “Empresas Shakti”.

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Elisa Rosenthal é diretora presidente do Instituto Mulheres do Imobiliário. Colunista no Estadão e Exame. LinkedIn Top Voices. Autora de “Proprietárias” e “Degrau Quebrado”. Vencedora do prêmio Conecta Imobi 22 e 23 - Voz Feminina e ESG. Eleita a mulher mais influente do mercado imobiliário de 2023 pela Imobi Report.

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