#110 Governança Feminina com Heiko Spitzeck

vieses femininos

O futuro da governança corporativa é feminino e compartilhado

Se você quer ver uma governança mais equilibrada, resiliente e com um olhar de empatia, acredito que competências femininas são o caminho

Você sabe o que os países com as melhores respostas ao coronavírus têm em comum? Liderança feminina! De acordo com um artigo da Forbes países liderados por mulheres, como Alemanha, Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega, Nova Zelanda e Taiwan souberam conter o impacto da covid-19 bem melhor do que países como Inglaterra, Estados Unidos e Brasil.

Outro estudo do Instituto Update mostrou uma emergência política de mulheres que costuma ser diferente da atuação política tradicional. Acredito que as competências normalmente associadas a uma liderança feminina podem explicar a diferença.

No topo da lista de competências de uma liderança feminina está a empatia – a capacidade de se colocar no lugar de outra pessoa. Ao confrontar o coronavírus, muitas pessoas sentiam medo e não sabiam como agir. Erna Solberg, primeira-ministra da Noruega, tomou até os medos das crianças a sério e organizou uma coletiva de imprensa onde adultos eram proibidos.

Uma pesquisa do Instituto Update mostrou que mulheres votam contra o próprio partido em casos em que acreditam que a postura do partido não está alinhada com o bem-estar social. Outra característica é a atuação baseada no princípio de precaução. Angela Merkel, cientista de formação e chanceler da Alemanha, avisou a nação no começo da crise que ela esperava que até 70% da população pudesse se infectar com o vírus e que, por isso, era necessário adotar medidas de distanciamento.

Atuando preventivamente, possibilitou a Alemanha a abrir as restrições já em maio. Outras competências femininas que entram nessa reflexão são: procurar o erro antes em você e só depois em outros; empoderar outros; proteger os mais vulneráveis; e manter uma comunicação clara e mais carinhosa. O que não entra nessa lista são comportamentos como culpar os outros, demonizar pessoas com visões diferentes e pressionar instituições para uma reabertura enquanto os riscos para a saúde ainda são grandes.

As competências femininas são chaves ao responder a uma crise humanitária como a da covid-19 e devem ser desenvolvidas por todos os líderes – independentemente se ela se trata de um homem ou de uma mulher. Para quem quer aprofundar essas competências, recomendo a leitura do artigo “7 Leadership Lessions Men Can Learn from Women” publicado em Abril 2020 no Harvard Business Review.

Mas essa reflexão sobre competências femininas só explicam a metade do título da minha coluna. Você deve se perguntar: por que o futuro da governança é compartilhada? Apresento três argumentos em favor da governança compartilhada: um político, um tecnológico e um da governança corporativa atual.

O exemplo mais destacado de liderança compartilhada que eu conheço é o governo da Suíça. O órgão executivo máximo é o Conselho Federal, um colegiado com sete membros. O país – que vive basicamente sem guerras no território nacional desde 1847 – simplesmente não possui um chefe de governo.

Uma das tecnologias mais discutidas recentemente é o blockchain. A força dessa tecnologia é a descentralização. Para fazer transações seguras, várias instâncias na rede recebem informações. Enquanto dados hospedados em um único ponto podem ser infiltrados. É basicamente impossível hackear várias instâncias no mesmo tempo. Isso aumenta a segurança, porque o sistema não é governado por uma pessoa ou um grupo específico.

Vamos de novo: o que empresas como AmBev, Itaú, Natura e Duratex têm em comum? Você deve ter adivinhado essa vez: liderança compartilhada. Todas têm copresidentes no conselho de administração. Uma coliderança no topo da organização favorece decisões mais equilibradas e atende vários pontos de vista.

A previsão do futuro não é uma ciência exata. Eu acredito que os pontos apresentados podem significar uma tendência. Porém, o futuro depende das nossas decisões e ações. Desse jeito vamos cocriando o futuro a cada dia. Se você quer ver uma governança mais equilibrada, resiliente e com um olhar de empatia, acredito que competências femininas e decisões compartilhadas devem ser desenvolvidas tanto no setor público, quanto nas empresas.

  • HEIKO HOSOMI SPITZECK – 25 MAI 2020
Compartilhe esta postagem
Elisa Rosenthal é diretora presidente do Instituto Mulheres do Imobiliário. Colunista no Estadão e Exame. LinkedIn Top Voices. Autora de “Proprietárias” e “Degrau Quebrado”. Vencedora do prêmio Conecta Imobi 22 e 23 - Voz Feminina e ESG. Eleita a mulher mais influente do mercado imobiliário de 2023 pela Imobi Report.

Não há comentários neste post

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Comece a digitar e pressione Enter para pesquisar

Shopping Cart